segunda-feira, 25 de outubro de 2010

Mãe...

(após conversa com Bruno, só te queria a ti, mãe... precisei aliviar meu coração que chorava, mas não só dele vertiam lágrimas, meus olhos o acompanhavam...)
Mãe,
A cada dia que passa a saudade aperta mais… pensei que fosse diminuir, mas enganei-me e fizeram com que me enganasse…
Tenho tantas saudades tuas, saudades de te ver, de te dar um beijinho, de falar contigo…
Odeio-me por não ser a filha que gostarias que eu fosse… mas tu foste mais do que a mãe que eu merecia ter tido…
Mãe, tu eras o meu porto de abrigo… nós tínhamos as nossas discussões, os nossos desentendimentos, como existem em todas as famílias… mas tu compreendias-me… compreendias-me melhor do que ninguém… tu vias em mim aquilo que nem mesmo eu via…
Oh mãe, quanta dor existe no meu coração… quanta mágoa… quanta raiva…
Porquê, mãe? Porque tinha de ser assim? Porque tinha de nos acontecer isto? Logo a nós, mãe…
Tenho saudades de passear contigo, de ir às compras contigo, de simplesmente descer as escadas para ir ao lixo contigo…
Tenho saudades desse teu olhar de quem a todos e tudo perdoa, dessa simplicidade e ingenuidade de que eras portadora… tenho saudades do teu sorriso, da tua voz, do teu carinho expresso em cada palavra e gesto mesmo que indiferente ao olhar do mundo… tenho saudades de ti, simplesmente de ti e de toda tu…
Não sei o que o futuro me ditará… não sei se irei ter filhos, mas se os tiver, gostava de conseguir ser a mãe que foste, porque mãe, eu tenho muito orgulho de ser tua filha e podes acreditar mãe que os teus netos também terão muito orgulho de ti e sentirão pena por não poder usufruir do teu carinho…
Lamento mãe… lamento porque gostava muito de te ter visto avó… darias uma excelente avó… mas tal como dizias muitas vezes, nós só damos valor às pessoas depois de não as ter mais ao nosso lado… na verdade eu sempre te dei muito valor, tu sempre foste extremamente importante para mim, apenas nunca o disse a ti… e também lamento isso…
Não sei se um dia casarei… mas… não penso muito nisso porque faltarás tu nesse dia e todos os dias importantes que o antecedam… eu queria partilhar tudo contigo…
E no dia em que, finalmente, a minha vida académica terminar… será por ti mãe que eu terei vencido esta batalha, pois és tu que me dá força para continuar cá em cima, dia após dia, lutando em cada passo que dou… sentirei a tua falta, a falta do teu abraço, do teu sorriso, tanto ou mais do que sinto agora, mas acredito que estarás ao meu lado, tal como estás agora, como sempre estiveste e como sempre estarás… porque, mãe, o que eu sinto por ti é tão forte que nada nem ninguém conseguirá destruir este sentimento…
Sou humana, tenho sentimentos, acredito em “qualquer” coisa que me contem… não é bem assim e tu sabes, mas a verdade é que sou mais ingénua do que deveria ser… contudo não sei se gostava de mudar… não, acho que não… sou feliz como sou e não sei se conseguiria mudar…
No entanto, em alguns casos, e tu, mãe, tu sabes bem em quais, gostava de ser, em parte, como essas pessoas, gostava de, por vezes, conseguir dormir com o mal dos outros… mas não consigo… fazem-me mal, fizeram-nos mal, continuam a fazer-nos mal… mas eu não consigo ser igual a eles… eu não consigo, e isso irrita-me, deixa-me furiosa comigo mesma, porque eles não merecem que eu seja como sou…
Por outro lado, gostava de ser mais “dada” a algumas pessoas… gostava de conseguir dar-lhes um abraço, de lhes dizer gosto de ti, mas não consigo… não sei se essas pessoas sabem o que se passa dentro do meu coração, mas eu não consigo fazer demonstrações de carinho, de afecto… eu sei, eu sei que quem fica a perder sou eu, mas… eu sou assim e peço desculpas por não conseguir… às vezes até sinto vontade, mas rapidamente uma muralha se constrói à minha volta e eu simplesmente me refugio nela… é mau e eu devia já ter aprendido que não posso “esconder-me” para sempre dentro desta muralha, eu devia já ter aprendido que “esconder-me” atrás desta muralha não me leva a lado nenhum… eu devia já ter aprendido… ter aprendido com tudo o que perdi… contigo, mãe… porque me “escondia” nessa muralha e não te dava um abraço sempre que me apetecia, porque não te dizia a todos os minutos o quanto eu te adorava… tudo porque me parecia que se o fizesse estaria a fazê-lo por interesse… mas tu não pensarias isso, tenho a certeza – agora – e lamento do fundo do coração ter pensado, ter achado que pensarias, que acharias que o meu afecto não fosse verdadeiro, mas sim de interesse… como fui estúpida?... o que perdi à conta disso…
Como gostava de voltar atrás no tempo só para te dizer “Perdão, mãe”… perdão por tudo o que te fiz e perdão por tudo o que poderia e deveria ter feito e não o fiz… perdão por ser quem e como era e por não ser quem eu pensava que querias que eu fosse… agora acredito – ou pelo menos tento acreditar – que tu gostavas de mim tal como eu era… acredito até que gostavas mais de mim do que eu mesma…
Tudo o que fizeste foi para meu bem, para eu me tornar numa pessoa de bem, numa pessoa… numa pessoa que também eu gostava de ser… pode não ter resultado a 100%, porque não resultou, eu continuo a ter falhas… mas mãe, eu acho que fizeste um excelente trabalho, porque eu tento a cada dia que passa ser uma pessoa cada vez melhor… e asseguro-te que sinto orgulho de ser quem sou – tirando essa dita falha que tu sabes ao que me refiro e que é a coisa que mais me faz ter raiva em mim…
Mas acima de tudo, mãe, eu tenho orgulho de ser tua filha! Se eu pudesse escolher entre milhares de mulheres uma pessoa para ser minha mãe, eu escolheria a ti, sem sombras de dúvidas… porque tu colocavas um pedacinho de amor em tudo o que tu fazias e dizias… tu não conseguias ser má… mas eu era-o contigo… desculpa…
Sabes, mãe, sinto falta quer da tua parte boa, como da menos boa – porque essa eras tu; guardavas só para ti a parte menos boa da vida… e isso, mãe, isso é cada vez mais difícil de se ver… é por isso e por muito mais que nem sequer dá para descrever que tenho muito orgulho de dizer “tu és minha mãe, Fátima Azevedo… e com as minhas qualidades e os meus defeitos, eu sou tua filha…”
Já não tenho com quem “gritar”, posso desabafar com “milhares de pessoas”, mas haverá sempre um vazio em mim, porque faltará falar contigo, desabafar contigo, gritar contigo… gritar, sim… porque só gritando é que eu ficava bem, é que eu me sentia melhor… e tu ouvias-me falar, desabafar e gritar e estava tudo bem para ti… apenas te importava que eu estivesse bem também… e eu ficava…
E agora? Agora tenho tudo reprimido em mim… agora nada me completa… ainda te falo, mas não obtenho resposta… por vezes sonho contigo… mas não me chega para me confortar… … …